Pedro Calapez
a posição e o movimento
24 ENERO 2025 - 22 MARZO 2025

Pedro Calapez nació en Lisboa (1953), donde vive y trabaja. Comenzó a participar en exposiciones en los años setenta y en 1982 realizó su primera exposición individual. Ha expuesto individualmente en diversas galerías y museos, entre los que destacan Histórias de objectos, Casa de la Cittá, Roma, Carré des Arts, París y Fundación Gulbenkian, Lisboa (1991); Petit jardin et paysage, Capilla Salpêtriére, París (1993); Memória involuntária, Museo Chiado, Lisboa (1996); Campo de Sombras, Fundación Pilar i Joan Miró, Mallorca (1997); Studiolo, INTERVAL-Raum fur Kunst und Kultur, Witten, Alemania (1998); Madre Agua , MEIAC - Museo de Arte Contemporáneo, Badajoz y CAAC - Centro Andaluz de Arte Contemporáneo (2002); Selected works 1992-2004, Fundación Gulbenkian, Lisboa (2004); Piso zero, CGAC - Centro Galego de Arte Contemporánea,
Santiago de Compostela (2005); Lugares de pintura, CAB - Centro de Arte Caja Burgos, Burgos (2005).
Entre las diversas exposiciones colectivas en las que ha participado destacan las Bienales de Venecia (1986) y São Paulo (1987 y 1991) y las exposiciones: 10 contemporâneos, Museo Serralves, Oporto (1992); Perspectivas, Centro de Arte Contemporáneo de Marne-la-Vallée (1994); Pasado mañana, CCB - Centro Cultural de Belém, Lisboa (1994); Ecos de la materia , meiac, Badajoz (1996); Tage der dunkelheit und des lichts, Museo de Arte de Bonn (1999); edp. arte, Museo Serralves, Oporto (2001); Del zero al 2005. insights on portuguese art - Fundación Marcelino Botín, Santander (2005); Beaufort outside - inside, Trienal de Arte Contemporáneo, Museo MMK, Ostende (2006).
"Al principio, debían ser monocromáticos (...). Pero no pude evitar alterar estas superficies. Algunas han conseguido permanecer intactas, sin pintura (...). Y esto es también algo que nunca había hecho, que es combinar paneles de un color uniforme, y además pintados de forma totalmente industrial"
Pedro Calapez en conversación con Miguel Nabinho
" SUM QUOD SUM"
Sérmon de San Agostin n.76
Isto
“- Isto, afinal, é tudo uma grande confusão!”
Foi tudo o que consegui ouvir a um grupo de uns seis homens, ainda bastante jovens, que conversavam animadamente, próximo da entrada do hotel Savoy, na Fasanenstrasse, em Berlim. Falavam todos ao mesmo tempo; a única excepção era um, talvez o mais novo, que parecia alheio ao que os outros diziam, e assobiava. Assobiava com convicção e persistência. Os outros parecia não darem por isso, como se o assobio fosse uma companhia natural daquilo que diziam.
Ocorreu-me de imediato a figura do espírito que nega...
Por essa altura, eu fumava charutos, sempre de grandes vitolas, disso tenho a certeza, e lembro-me que procurava sempre sítios que se ajustassem bem ao fumo e ao seu tempo demorado. Em cada cidade tinha o meu pouso favorito.
Isto é tudo o que imprecisamente recordo daquela cena, que pode muito bem ter acontecido noutra cidade ou noutro hotel ou, até mesmo, num outro tempo.
Afinal talvez estivesse mesmo dentro do hotel Savoy, numa sala espaçosa, e o tal grupo que conversava estivesse numa mesa ao lado da minha.
E eu, muito confortavelmente instalado, imagino sempre que uma súbita interrupção abala a cena, restando dela apenas o apetitoso charuto, a frase que conservara e o assobio. Como uma imagem clara que subitamente se tolda e se fragmenta por um inesperado estremeção.
Então tudo se desfaz.
É isto quase todas as noites. Repete-se a confusão, os sítios, o fumo e o assobio. Como já atrás disse, isto pode tudo não passar daqueles sonhos que se repetem e se sucedem durante as nossas vidas. Os seus habitantes não são necessariamente inexistentes, mas a sua mistura e a sua solidez têm um equilíbrio equívoco.
Penso muitas vezes nisto, nesta tão poderosa força que temos para combinar coisas que nos chegam de tão diferentes origens e são de tão diferente natureza.
Parece haver um excipiente de proveniência obscura que tudo liga, tudo combina e nos foge, sem que demos sequer conta dos seus poderes e dos seus efeitos. São estas aproximações ou, talvez melhor, atracções que dão vida ao que imaginamos. Como a pata de um gato que apanha – caça?
Não que tudo o que se aproxima faça parte daquilo que não sabemos bem o que é. Há as coisas que não sabemos, é verdade, mas também há as que convocamos com conhecimento, por suspeita, por intuição, e ainda por vá-se lá saber o quê.
Nada é tão fácil assim, como diria o Génio.
É um fazer ou acontecer que nos acompanha, mas que também pode voltar atrás, um perceber que algo lhe escapou ou um poder de encontrar o que não conhece.
Andam assim as coisas à nossa volta. Porque é que as coisas andam à nossa volta? Por um lado, não sabemos, faz parte de um mistério; por outro, temos quase a certeza de que se trata de uma nossa teimosia em não podermos existir sem arrastarmos connosco o que apanhamos, mesmo sem sabermos porquê.
Mas voltemos ao início. Estava eu a fumar um bom charuto no hotel Ritz de Madrid, ou num outro qualquer, pois já não me lembro bem, quando ouvi um grupo que conversava, dizer: “- Isto, afinal, é tudo uma grande confusão!”. Nunca soube de que confusão se tratava, muito embora merecesse o meu mais completo acordo.
Dos rapazes do grupo, fica o que assobiava. Reconheci de imediato a melodia, era-me familiar e nunca a esqueci. Nem esquecerei.
Jorge Molder